sábado, 14 de fevereiro de 2009

DEIXA EU DIZER QUE TÔ CANSADO

Deixa eu dizer que eu tô cansado, cansado e com raiva, raiva do mundo doente, da hipocrisia desta roda-viva-gigante. Tô com raiva da puta que me pariu e que me partiu, me partiu, me partiu... Tô cansado do discurso do padre, tô cagando pro apelo da freira. Não quero afagos e palavras bonitas. Dispenso a esmola da piedade. Tô estalando, nos dedos, conselhos, um a um. Hoje, tô carente é de verdade. Que se dane a casa arrumada, o chão limpo, a roupa guardada, se eu abro a janela e não vejo nada, nada, nada. Quem sabe o que é certo e o que é errado? Pra onde a roda gira? Quem escolheu este lado? Tô esvaziando as virtudes das minhas gavetas, elas não nunca me serviram pra nada, nem pra mim, nem pra quem se gaba que as tem. As virtudes já nasceram viciadas. Tô farto da caridade e da bondade excessiva. Tô de olho é na sanidade dos loucos. Eu me deito no chão e me encosto na pedra, a garganta está seca e a fumaça derrete minhas retinas, mas já não arde mais. Não preciso que ninguém me entenda, eu preciso é do meu vazio, da luz da minha cegueira, das batidas rápidas do meu coração, que me avisam sobre ainda estar vivo. Eu quero a vida. Eu quero, ainda, o intervalo entre o meu nascimento e a morte.

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