quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A MENINA E A TERRA


A terra amamentava de sonhos o coração da menina e ali, deitada, podia experimentar, com seu corpo, a textura bruta e rugosa daquele tapete sob sua pele rosada e delicada.
E por cima da superfície áspera, a menina quis sonhar mais, e sonhou. Quis sentir mais, e sentiu.
O chão irregular a tocava de maneira inocente, mas despertava um desejo audaz e desmedido de conhecer-se toda.
Fechou os olhos e, agora, podia também absorver o cheiro da terra, cheiro molhado, confundindo-se com sua própria seiva.
A terra causava sensações estranhas na menina que, ainda de olhos fechados, sentia os pêlos eriçando, tal como estivessem germinando.
A menina, antes exposta como uma clareira na mata, já respirava com dificuldade e, assim, arquejando, arqueava seu corpo numa luta bendita consigo mesma. Sentiu-se flor se abrindo. Sentiu também o suor percorrendo caminhos antes traçados por suas mãos, descobrindo cada detalhe de seu corpo, agora seu de fato.
A menina quis falar, sorrir, chorar, mas não precisava. Estava plena de si. Fartou-se de si mesma.
Queria, agora, adormecer porque sabia que, ao acordar, a vida continuaria, o dia seria longo e ainda tinha outras terras para descobrir, muitos sonhos para plantar e irrigar com suas idéias de menina.

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