sábado, 21 de fevereiro de 2009

NÃO ATIRE PALAVRAS EM MIM

Menino com coração de cowboy,
o mundo é torto, e daí?
Tragédia vista em revista
e até bem quista por ti.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Tua fonte me interessa
E eu nem tenho tanta pressa.
O que te falta e o que te sobra?
O que te ergue e o que te dobra?

Não adianta querer o sétimo lado do dado
Ou a terceira face da moeda
Quando a vida é cara ou coroa
e o mundo é uma merda.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Eu queria só um pouquinho de prazer
Sentar num canto com você
Tomar emprestado o teu suor
tua saliva, tua dor.

A grana acaba, a casa desaba
A garganta seca, a alma aperta
O corpo dói, o coração rói
A cabeça gira, a boca atira.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Pra que futuro, pra que passado?
O negócio é estar lado a lado.
Eu quero é hoje, eu quero agora
O resto a gente joga fora.

A madeira lapidada foi tosca,
a manhã ensolarada fosca,
e você pega teus problemas toscos e foscos
e vai derretendo tudo com gosto.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Eu passava desamada, desalmada
Armada, cansada
Mas vi vida no teu ser
E também quis existir em você.

Menino preso na teia
O sistema é mesmo uma cadeia
Dever pedra, dever favor
Nascer escravo e devedor

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Eu te entendo até
Queria nem entender
Porque aí já tinha me mandado
Antes do peito doer.

O ser humano não tem vergonha não
Você tem mesmo razão
Tá com ódio, tá com raiva?
Vai servir sopa envenenada?

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Menino, menininho
Era só um carinho
Te tocar, te sentir
Ver e partir.

Quem vê tua cara, hoje não vê felicidade
Você odeia gente, chama todos de bêbados, sujos, drogados,
malditos hippies pestilentos,micróbios fedorentos
malandros vestidos de malandros, mulambos.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Eu não te vejo assim
Ainda sinto o menino
Que anda perdido no mundo
Com o mundo dentro de si.

Vai pro mato montar casa de pedra e pau?
Montar estufa, plantar skunk?
Vender no Rio...
Acabar com esta gentalha que te faz mal?

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Eu queria o menino, o homem, a falha
Teu ódio, amor e navalha
Um pouco do mel, um tanto do fel
Entrar inteira em tua fornalha.

Você tira sarro da vizinha ridícula, que é uma mãe chinfrim
Pegou birra da filha pestinha, a Caroline “chorolina”
Aí a menina vai pra escola, educa-se, muda pra doce o que era sal,
Você vê que perdeu a graça, não vai ter do que falar, praticar o teu mal.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Vamos pegar bexigas pequenas, querido
Encher de água, dar nó, acertar um no outro
As crianças também querem, vai ser divertido
Olhe, você disse, elas estouram e não ferem.

Mas você também diz que grana é tudo
Que Jesus Cristo, sem ela, não é nada
Que melhor é estar drogado, na fantasia
E do que está ruim dar risada.

Mas em nossa entrevista
não feche as portas,
não vista palavras tortas,
Nem as atire assim, assim.
Palavras são copos de vidro lançados,
Estilhaços, pedaços, marcas, farpas
Engastadas em mim, em mim.

Menino, eu queria tão pouco,
Tua voz, teu cheiro, teu gosto
Segurar tua mão, jogar o teu jogo
Me queimar toda em teu corpo.

Sonhos de metal, casa, saúde, amor,
Pra você tudo é grana
Me mandou ter vida social
Transar com um cara bacana.

Você me fechou as portas
Me atirou palavras tortas
Suas palavras são copos de vidro, menino
Assim, atiradas em mim.
Pedaços
Estilhaços
Marcas
Fim.

E eu até te entendo...

Um comentário:

Fábio R Sampaio disse...

Como eu disse pra vc outro dia as palavras so tem alguem significado pra gente quando a gente se identifica com elas, quando a gente se ve nelas, quando a gente sente elas... eh eu tenho q admitir q este poema me serviu como uma carapuça... assim como as musicas... bom, naum to sendo pretensioso achando q fizestes um poema pra mim. Seria muita prepontencia e egocentrismo. O que eu quis dizer eh q os versos desse poema reflitiram em mim. Em meu estado de espirito... Espero que me compreenda..
Do seu amigo Fabio Sampaio