
Naquela velha vitrola, acho que se reuniam todos os segredos que até hoje não descobri.
Eu pegava os meus discos coloridos de vinil compactos e ouvia suas histórias, sempre narradas por locutores de voz grave.
Virar o disquinho nunca foi problema. Era até gostoso e dava certa expectativa aguardar a segunda parte da história naqueles segundos. A agulha ia conduzindo a história e nos conduzindo para dentro dela.
Muitas me deixavam insatisfeita. Eu sempre queria dar uma melhorada no enredo. Nunca entendi, por exemplo, porque Cinderela era a única mulher de um povoado inteiro a ter o mesmo número do sapatinho de cristal guardado pelo príncipe.
Talvez ela fosse mesmo tão especial que aquele número estivesse reservado para ela.
Então eu ficava sentada, colada na velha vitrola. Ela era irresistivelmente toda iluminada por dentro. Eu lembro que sempre tentava olhar seu interior por frestas que a revelavam. Havia papéis, fios e tantas outras coisas que nem me lembro mais.
Era possível que naquele mundo misterioso houvesse também pequenos tesouros que nós, crianças, jogávamos ali, prendendo-os para sempre. Nem nós poderíamos mais resgatá-los porque nossas mãos não passavam pelas frestas. A vitrola era um cofre inviolável. E era grande nosso prazer em perder propositalmente coisas ali que jamais seriam lembradas outra vez.
Não quero ter que me recordar de uma certa tristeza calada quando ela se foi.
Com ela se foram todos os nossos segredos, as nossas dúvidas, os nossos mistérios, a nossa infância.
Restou mesmo uma lembrança quase esquecida também.
Eu pegava os meus discos coloridos de vinil compactos e ouvia suas histórias, sempre narradas por locutores de voz grave.
Virar o disquinho nunca foi problema. Era até gostoso e dava certa expectativa aguardar a segunda parte da história naqueles segundos. A agulha ia conduzindo a história e nos conduzindo para dentro dela.
Muitas me deixavam insatisfeita. Eu sempre queria dar uma melhorada no enredo. Nunca entendi, por exemplo, porque Cinderela era a única mulher de um povoado inteiro a ter o mesmo número do sapatinho de cristal guardado pelo príncipe.
Talvez ela fosse mesmo tão especial que aquele número estivesse reservado para ela.
Então eu ficava sentada, colada na velha vitrola. Ela era irresistivelmente toda iluminada por dentro. Eu lembro que sempre tentava olhar seu interior por frestas que a revelavam. Havia papéis, fios e tantas outras coisas que nem me lembro mais.
Era possível que naquele mundo misterioso houvesse também pequenos tesouros que nós, crianças, jogávamos ali, prendendo-os para sempre. Nem nós poderíamos mais resgatá-los porque nossas mãos não passavam pelas frestas. A vitrola era um cofre inviolável. E era grande nosso prazer em perder propositalmente coisas ali que jamais seriam lembradas outra vez.
Não quero ter que me recordar de uma certa tristeza calada quando ela se foi.
Com ela se foram todos os nossos segredos, as nossas dúvidas, os nossos mistérios, a nossa infância.
Restou mesmo uma lembrança quase esquecida também.
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