segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

IDÉIA EM BRANCO

Ontem ele pensou numa frase. Uma frase bonita. Ele pensou numa frase bonita para começar um livro ou um romance, ou uma discussão, ou uma reconciliação, ou um livro que falasse de um romance com possíveis discussões e reconciliações. Era bem simples e ele pensou no exato momento em que ia dormir. Sem rebuscamento, sem artifícios, sem retórica, mas gostosa de se ouvir. Todos gostariam por certo. Ele se levantou para anotá-la, coisas assim devem ser registradas.
A ação teve que aguardar mais um pouco. O telefone tocou, ele atendeu. Teve vontade de dizê-la, mas por um momento não teve coragem. Era tão dele. Ninguém tinha pensado, só ele. Entregá-la assim? Como se não fosse especial? Precisava de um momento especial, de um contexto específico, de uma situação própria. Ele conversou por duas horas ao telefone, o amigo queria perguntar alguma coisa sobre algo que ninguém, nem ele sabia o que era. Ele sentiu-se grandioso por não entregá-la. Terminou, pegou o papel e a caneta, os instrumentos básicos para colocar em ação o seu plano secreto, de registrar a belíssima frase e que, sim, era muito bonita e todos gostariam de ouvir.
Ele escreveria um livro. Uma frase assim precisava ser o começo de alguma coisa.
Mas como era mesmo a frase?
Ele a esqueceu como quem se esquece do primeiro grande amor.
Como ele podia ter esquecido? Tinha sido tão especial, tão dele. Agora nem dele nem de ninguém. Não tinha compartilhado a frase que tinha pensado ontem...
Isso não impediu que, hoje, ele começasse o livro.
Na primeira linha, um espaço em branco. A frase será sentida. Verão como é bonita e como traz boas sensações. Cada um preencherá o seu espaço da forma mais sincera e mais pessoal que puder.
E , assim, todos lerão e sentirão a emoção que não ouviram, mas que saberão não ser preciso dizer.

Um comentário:

Biel Renieя disse...

Costumo dizer que as palavras são medidas pelas atitudes. Palavras só são grandiosas quando as atitudes que nelas repousam tb o são.
Eu não gosto muito de acreditar nas palavras... Acredito quando não as ouço, mas as entendo.
Não sei o que dizer. Acho que você já disse tudo com essa última frase.
Beijos pra você e se cuide.
Estou te acompanhando aqui, hein.
^^