segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

EU NÃO SABERIA DIZER

Eu não saberia dizer. Não saberia dizer com palavras saídas da boca. Uma sensação de impotência quando me perguntam como eu sou e do que eu gosto. Estas são as perguntas cujas respostas são sempre as mais difíceis para mim. Não por não as saber, mas por elas morarem aqui dentro, por serem muitas, por se abraçarem, por se anularem e por ressurgirem.
A verdade é que elas se diriam sozinhas. Não precisam do meu auxílio.
Mas, quando me perguntam, sinto-me na obrigação de expulsá-las, de revelá-las e confundo-me. Elas me confundem. Vou vestindo as respostas para que elas se apresentem lindas, imaculadas e ao gosto do indagador.
Algumas respostas se sentem bem com as vestes, outras me odeiam e me desprezam. Desfilam com seus olhares aniquilantes e perplexos. Não convencem. Sinto-me desmascarada, despida.
A verdade reclama mais do que a nudez. Ela é cruel e arrebanha meus sentimentos mais primários.
Não sei me dizer. Eu sei me pensar e eu não penso com palavras porque elas são lineares demais. Elas me atrapalham, desvirtuam a velocidade das minhas idéias e as minhas idéias atropelam qualquer limite de velocidade estipulada pelos homens.
As minhas idéias não têm cor, não têm língua e não têm idéias... Elas não têm consciência de suas causas e conseqüências. Elas só adquirem corpo quando são vestidas e expulsas. Aí elas sofrem e eu sofro também.
Não me perguntem quem eu sou e do que eu gosto, porque eu não saberia dizer com palavras.

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