sábado, 6 de dezembro de 2008

OBJETOS OBSERVADORES

Havia pessoas que gostavam de ser objetos observadores naquele lugar. Observavam o lado de dentro e o lado de fora daquele lugar e delas mesmas e, ainda, observavam aquele lado que não era de dentro nem de fora, e que ninguém mais via.
Observavam tanto e tão detalhadamente que não se sentiam em lugar nenhum, apenas num vazio, daqueles que preenchem a gente até a alma. Tampouco se sentiam objetos, de tantas marcas que se impregnavam pela observação. Sentiam-se pessoas mesmo, mas pessoas mesmo não ficariam só observando.
Eram, de fato, objetos; objetos observadores. Já nem sofriam, já nem amavam, já nem nada.
Não eram observadas e isso era o que havia de pior... a não ser... por elas mesmas. Enxergavam-se no tal vazio, observando o tal lado que ninguém via e carregando aquelas marcas, algumas delas provocadas pela própria auto-observação e pela consciência de não serem observadas.
Não eram consideradas objetos porque ninguém tecia considerações sobre elas.
Elas eram elas, ali, sozinhas, observadoras, mudas e desconsideradas. Eram pequenos objetos observadores.

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