sábado, 6 de dezembro de 2008

O MEU LUGAR

Era o último lugar do ônibus. Sentei-me triunfante e certa de que o dia me era favorável. Pela janela via a paisagem. Gostava de ver a paisagem e as pessoas e as situações e os lugares.
Não demorou muito para o ônibus encher e uma velha senhora buscar algum lugar para jogar seu corpo, certamente cansado de longas jornadas. Ninguém, nenhuma viva alma, para oferecer-lhe um pouco do conforto merecido. Ela estava a três filas de cadeiras da minha. Ali, em pé, diante de pessoas sem a menor piedade dela, senhora cujas rugas traziam serenidade e cansaço.
Aborreci-me com a falta de humanidade, de solidariedade, de atenção. E aquela frase conhecida rondava-me a cabeça: “Um dia todos chegarão lá!”
Olhei para aquela que estava diante dela e vi que era outra senhora, talvez mais velha, mais cansada, enfim, justificava-se a omissão de ajuda.
Olhei para o lado daquela senhora sentada e o banco estava quebrado. Ninguém poderia sentar ali. Olhei para trás e para a frente e para os lados – outras senhoras, mulheres grávidas e até alguém com muleta. Fui caminhando com o meu olhar até enxergar, enfim, a pessoa mais próxima e aquela com os requisitos para ceder o lugar à senhora: eu!
Fechei meus olhos, bateu-me sono. E a velha nem me pareceu tão mais velha assim.
As pessoas são capazes de mudar as situações, mas não tanto quanto as situações são capazes de mudar as pessoas.

Nenhum comentário: